terça-feira, 15 de março de 2011

Minha banda está com as músicas prontas e nós queremos gravar. O que fazemos? Parte 2 - By Sergio Filho

Na primeira parte desta série falei um pouco sobre o papel de cada um dos profissionais envolvidos na produção de um disco/trabalho fonográfico. Nesta segunda parte vou falar um pouco mais sobre o produtor musical e das etapas da produção de um disco, no que diz respeito ao estúdio. Já vimos que o produtor musical precisa escutar o trabalho de fora para poder entender o objetivo e a sonoridade a serem alcançadas durante as etapas de gravação, mixagem e masterização. Mas antes de ir para o estúdio de gravação existe a etapa chamada de pré-produção.

Ela é, em termos simples, a etapa seguinte àquela de onde começamos, onde a banda já tem as músicas, os arranjos, já ENSAIOU BASTANTE, decidiu gravar, conheceu o produtor e precisa mostrar pra ele as músicas! Bom, nessa hora, o produtor vai ter contato pela primeira vez com as músicas. Pode ser num ensaio propriamente dito ou através de uma demo. Após as primeiras conversas e assim que ele conseguir formar uma opinião sobre o trabalho, ele pode sugerir algumas mudanças (na estrutura de uma música, na sua dinâmica ou na sua execução) e daí vocês podem fazer uma gravação com tudo definido ANTES de entrar em estúdio para gravar o material de verdade. Repare que eu coloquei em maiúsculas algumas coisas.

Ensaiar muito facilita as coisas de uma forma impensável. Dominar os arranjos e estar com tudo na ponta da língua salva tempo ($$$) em estúdio. Existe uma relação muito interessante e tênue entre ser rápido no estúdio e não fazer as coisas com pressa. Como dizem os índios norte-americanos: “Leve o tempo que precisar, mas apresse-se!” A segunda marcação em maiúsculas diz respeito a ter uma ideia básica, uma concepção da música antes de entrar em estúdio. Isto, novamente, salva tempo e paciência de todos os envolvidos no trabalho. Já imaginou, em um disco de hard rock, em todas as 12 músicas o guitarrista ter que inventar o solo no estúdio pois ele não havia definido antes? Em outras palavras: haja saco! Mas veja bem, isso não te impede de fazer um experimentalismo, tentar uma nova frase ou coisa e tal. Isso é, inclusive, louvável. Mas tente ser objetivo no máximo possível de coisas.

E essa pré-produção precisa ser no mesmo estúdio da gravação à vera (ou seja: custar caro)?

Obviamente, nos dias de hoje, a pré-produção é até um certo luxo (embora eu a considere extremamente importante). Trabalhar da melhor forma dentro de um orçamento é uma virtude para poucos, mas a ideia aqui é justamente te ajudar a decidir onde vale mais a pena investir mais. Se você tem muito pouco pra gastar, mas tem certeza de que os arranjos estão prontos e confia no seu produtor, considere pular esta etapa. Do contrário, tente fazê-la em casa ou em um estúdio mais simples. Muitas vezes, uma gravação de ensaio já é suficiente (e nem vai encarecer tanto seu disco, certo?). O mais importante dessa história toda é tentar deixar o material o mais pronto possível. Antes de buscar o produtor certo (ou de um membro da banda assumir esta posição, na falta de grana pra bancar isso), concentrem-se nos ensaios e nos arranjos. Procurem fechar um conceito e respeitar o papel de cada elemento dentro de cada canção. Quando o produtor entrar na história, ele vai tentar trazer mais “cola” pra coisa. Unir mais os elementos e fazer aquilo trabalhar de verdade, em prol da canção. Como já disse, grandes produtores deram grandes ajudas na criação de verdadeiros hits que todos conhecemos!

Na próxima etapa, quando a banda seguir pro estúdio, o produtor deve seguir esse conceito criado na pré-produção auxiliando o técnico de gravação a obter o melhor som dos instrumentos (neste caso, melhor é o que se encaixa na proposta, ok?) e extraindo dos músicos a sua melhor performance. Esse trio músicos-produtor-técnico de gravação vai ser essencial pra criar a base, o grosso do disco. Tente fazer o melhor possível ainda na gravação. Evite ao máximo deixar pra consertar na mixagem. Isto pode custar caro e muitas vezes nem ter saída. Os ingleses são firmes em dizer que o som do disco vem todo da gravação. Excesso de truques nas etapas seguintes pode deixar um trabalho muito pouco orgânico e não vai ter volta!

Na etapa da mixagem, o produtor deve ficar atento em manter a coesão do trabalho dentro da proposta escolhida. É bom que ele conheça bem o estilo (ou então procure fazê-lo), escutando outros discos que são referência de sonoridade e, se possível, ficar por dentro das técnicas de mixagem usadas nesse estilo. Por exemplo, para uma banda de rock pesado, quase sempre se usa fazer dobras nas guitarras para abri-las no panorama. Não que você não possa fazer fazer diferente, mas isso não exclui a sua tarefa (e principalmente do produtor) de conhecer essa característica. Esse trabalho seguirá adiante na masterização, onde o produtor vai precisar acompanhar a mudança de músicas no CD, se elas soam coesas, com volume compatível e é onde se dará os últimos retoques. Afinal, depois da masterização o CD (ou outra mídia qualquer) vai ser duplicado e distribuído. É importante atentar para o excesso de volume em detrimento da qualidade do áudio final (a chamada Loudness War, de que vou falar mais à frente).

Portanto, nunca deixe de ter uma boa relação com o seu produtor. Se você for um, seja na sua banda, ou trabalhando com outras, procure entender o ponto de vista do autor das músicas (ou da banda) e evite tentar impor a sua opinião. Mesmo que você tenha certeza do que está fazendo, o disco ainda é dos outros e por isso precisa haver um consenso. Ninguém está livre de desavenças (nem os Beatles foram assim!), mas também o disco precisa sair e pra isso bom relacionamento nunca é demais!

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